Como Demitir Pessoas

 

O fato que pessoas são importantes nas organizações está para lá de consolidado, tanto que as empresas investem maciçamente em treinamento e no engajamento de profissionais à sua política,  filosofia de trabalho e objetivos.

São programas de integração, desenvolvimento organizacional, disseminação de políticas internas, valores e paradigmas da corporação que devem estar nas mentes de todos os profissionais que para ela prestam serviços.

É exigido de cada um dos profissionais o máximo de dedicação (tempo) e comprometimento (responsabilidade) com os objetivos da empresa, de tal forma que esses profissionais passam a se sentir com uma parte viva da corporação. Passam então a viver em função dela.

Essa simbiose não é casual, não é maquiavélica e é necessária à sobrevivência da empresa no mercado local ou globalizado. Em um cenário em que a velocidade e precisão da tomada de decisão são tão, ou mais, importantes como ter custos e, conseqüentemente, preços competitivos.

Esse profissional, dedicado e comprometido com as políticas e objetivos da empresa, sente a necessidade de se manter informado com relação ao mercado e concorrência. Atualizado com as mais avançadas tecnologias e metodologias de trabalho para gerar resultados cada vez melhores. Dedicando tempo e recursos que vão além da sua jornada de trabalho. Entretanto, ele não faz apenas por gostar da empresa, mas principalmente porque realiza-se por meio dela. Por que ter um bom emprego e uma confortável posição na empresa lhe dá status. Sente-se feliz pelos resultados que alcança e pelo reconhecimento que recebe. Ainda mais quando o emprego, status e salário vêm acompanhados de benefícios como carro, combustível, participação nos lucros, viagens, cursos etc.

Todo esse sistema o faz acreditar que o sucesso da empresa é o seu sucesso também, esquece-se que quem está no comando é a empresa. Que ele é, apenas e tão somente, um recurso de sua estrutura. Necessário, mas substituível quando não mais oferecer resultados compatíveis com o custo que representa. Quando não mais estiver alinhado com os objetivos da organização.

Tudo isso se faz necessário, tudo isso é útil e racional. Desde fazer o profissional acreditar que o sucesso da empresa é o seu sucesso também. Assim como não lembrá-lo de sua fragilidade e impotência frente aos interesses da organização.

O que não é racional ou benéfico é o descarte puro e simples desse profissional quando não há mais interesse da empresa. Não é justo tanto investimento em recursos para trazer e manter um profissional e tão pouco investimento para desvincular sua personalidade, pessoal e profissional, da personalidade da empresa.

Durante toda sua vida na empresa ele é vinculado à personalidade da empresa, aos seus resultados e sucessos. Fica dependente desse sucesso e do status que ele proporciona. Quando é demitido perde o referencial. A sua personalidade, mesmo que momentaneamente, fica incompleta. Falta um pedaço, o pedaço que era preenchido pela personalidade do cargo que exercia na empresa, e que acaba de perder. O quebra do vínculo rompe a rotina, e muitas vezes o profissional se pergunta: “O que farei amanhã?”

Portanto, porque não investir também na dissociação da personalidade profissional da personalidade da empresa? Para que esse profissional acredite que, embora não trabalhe mais para aquela organização, continua sendo capaz de gerar resultados. Que a bagagem que leva, o conhecimento e a experiência, pertence a ele e nada poderá tirar-lhe isso. E isso o ajudará nas próximas jornadas. Que o mérito dos vários sucessos alcançados continuam sendo dele.

Criemos processo análogo ao de integração para a demissão de profissionais. Fortalecendo-lhes a auto-estima e ajudando-os no processo de recolocação. Mostrando‑lhes o caminho a ser percorrido.

Depois de 10, 20, 30 anos em uma empresa é fácil esquecer como recomeçar, é difícil encontrar forças.

O sentimento predominante é o de fracasso. Como sempre foi cobrado de resultados, entende que sua demissão foi pelo fato de não tê-los alcançado. E resultados sempre trouxeram prestígio. O segundo é a vergonha de ser demitido, de não ter como explicar o “fracasso” à família e aos amigos.

Devemos começar a tornar esse processo mais humano e digno. Começando por treinar quem demite para fazê-lo da forma menos traumática possível. Pois demitir não é tarefa fácil.

O profissional desligado deverá contar, por algum tempo, com a ajuda da empresa, seja psicológica, seja apenas logística. O apoio é importante nesse momento.

O mais importante é tratar o demissionário com o mesmo respeito e atenção que sempre mereceu. Algumas empresas, e profissionais de RH, tratam os ex-colaboradores como se fosse incômodo atendê-los, às vezes como bandidos, isolando-os dos seus ex-colegas de trabalho.

Profissionais que agem assim não têm consciência de como isso é desumano e cruel. Esquecem-se de que estão criando escola dentro da empresa e o tratamento que estão dando, logo lhes será dispensado também.

Devemos romper com essa atitude e humanizar o processo de desligamento, se nos falta empatia para entender o outro, que o façamos por nós mesmos.

 

 

 

Gerald Corelli
Consultor
de Empresas